Veja chama evangélicos de 'gente
incômoda' e pastores respondem:
"É preconceito"
Um artigo publicado pela revista Veja está gerando protestos entre os
evangélicos, após chamá-los de 'gente incômoda'.
FONTE: GUIAME, POR JOÃO NETO
ATUALIZADO: QUINTA-FEIRA, 5 OUTUBRO DE 2017 AS 11:46
Artigo da revista Veja (esquerda) foi criticado por líderes cristãos, como Asaph Borba (centro) e Rina (direita). (Imagem: Guiame)
Na última terça-feira, a Revista Veja publicou em seu site o artigo "Gente Incômoda" que integrou sua edição mais recente. No texto, o articulista J. R. Guzzo cita que os evangélicos são o grupo religioso que mais cresce no Brasil e os caracteriza como "incômodos" para grande parte da sociedade.
"Trata-se da 'fé evangélica', como se chama, para simplificar, a vasta constelação de igrejas, seitas e cultos de origem protestante que nas estatísticas já reúnem um terço da população brasileira — e na vida real podem estar além disso. Esse povo, em grande parte do 'tipo moreno', ou 'brasileiro', vem sendo visto com horror crescente pela gente bem do Brasil", escreve o autor do texto em um trecho.
Em outro trecho, Guzzo critica as doações e dízimos entregues nas igrejas como uma uma "infecção".
"É possível separar religião de vigarice? Possível, é — pensando bem, é perfeitamente possível. O impossível é escrever leis que resolvam o problema de maneira eficaz, racional e coerente com a democracia. Não se conhece nenhum regulamento capaz de distinguir donativos bons de donativos ruins — pois o foco da infecção está aí, no tráfego de dinheiro do bolso dos fiéis para o caixa das igrejas", acrescenta.
Líderes cristãos, como o Ap. Rina (Bola de Neve) e o pastor, escritor e ministro de louvor Asaph Borba criticaram o artigo.
"Em primeiro lugar, como evangélico e jornalista, quero dizer que o artigo é muito mal escrito, pois é confuso em sua abordagem e, comete erros básicos, como se referir ao público em questão com termos discriminatórios de raça e cor e ainda com uma conotação pejorativa", disse Asaph, fazendo menção ao primeiro trecho retirado do artigo e citado acima.
"No decorrer de sua análise, ainda acrescenta outros adjetivos, tais como, 'religião incômoda' e 'problema sem solução", acrescentou o ministro de louvor.
Asaph Borba também alertou que a confusão do artigo continua, quando o autor do texto não deixa claro quem são as pessoas que os evangélicos tanto têm "incomodado" na sociedade brasileira.
"Em segundo lugar, o articulista não deixa claro quais são as pessoas de bem a quem os evangélicos tanto perturbam. Fico livre, então, para imaginar quem seriam esses baluartes da honestidade e da intelectualidade que estão perturbados pelo aumento da fé evangélica. Quem são os políticos preocupados com o aumento da bancada evangélica? Essa gente 'de bem', por certo, deve ser a elite que cuida e direciona a educação e a cultura brasileira e quer impor goela abaixo da população suas práticas liberais, contrárias à Palavra de Deus, e que não são defendidas pelos evangélicos", afirmou.
O ministro de louvor afirmou que o texto acabou ignorando muito do que o Evangelho tem surtido como efeito positivo na sociedade.
"O artigo ignora por completo os muitos benefícios que o evangelho traz à sociedade. Principalmente quando se vê que está nas mãos desse segmento o maior número de casas de recuperação de drogados, que tem um alto índice de recuperação, (entre os quais eu me incluo). Alguém tem dúvidas do significativo trabalho dos evangélicos no atendimento de presidiários, de idosos, de crianças e de refugiados?", acrescentou.
"Pastores ricos" (?)
Asaph destacou que a análise do autor do texto sobre o contexto evangélico expôs mais uma vez sua superficialidade, quando ele falou apenas de pastores e igrejas que "ganham muito dinheiro", sendo que grande parte dos líderes cristãos nem mesmo tiram seu sustento das contribuições destinadas às suas congregações ou vivem em situações difíceis, sem perder sua integridade, apesar disso.
"Além de ser um julgamento irresponsável, o escritor ignora os milhares de pastores íntegros e pobres, espalhados por todo o Brasil, que realizam a tarefa diária de pastorear, visitar, aconselhar, proteger, alimentar, vestir, amparar, orar, libertar, apoiar e ensinar milhões de pessoas. Sem falar das escolas evangélicas que há mais de cem anos prestam um serviço de educação pública de qualidade em todo o país", destacou.
Na contramão
Segundo Rina, pastor e líder da Igreja Bola de Neve, em São Paulo, tal incômodo poderia ser gerado pelos evangélicos justamente pelo fato do cristianismo representar ideais que vão na contramão de muitas ideologias da sociedade pós-moderna.
"Por que o esforço em ridicularizar um povo que só promove o bem e o amor ao próximo, que atua diariamente e longe dos holofotes e do reconhecimento da mídia, a serviço das reais necessidades da sociedade, que inspira o altruísmo, ensina valores e princípios morais e éticos, como honestidade, integridade e lealdade, que recupera e reintegra vítimas das drogas e de tantas outras mazelas? Porque esse povo não concorda com a agenda de destruição da família? Porque são os poucos que se opõe? Onde está a liberdade de expressão que tanto se defende?", questionou Rina ao comentar o artigo em sua coluna do Portal Guiame.
"Numa democracia todos são livres para expressar e defender suas ideias e ninguém é obrigado a concordar com elas. Estamos incomodando? E aí vale usar termos preconceituosos na tentativa de desqualificar os cristãos diante do restante da sociedade? Como se não houvesse contribuição nenhuma dessa parcela da população na construção e evolução da nação? Aqui estão alguns morenos, dessa 'incômoda religião', que segundo a matéria, se tornou um 'problema sem solução", acrescentou.
"Incomoda mesmo"
Asaph Borba acabou fazendo coro com Rina e afirmando que tal incômodo por parte dos "intelectuais" citados por Guzzo pode realmente ser explicado pelo fato dos cristãos estarem se posicionando firmemente sobre questões que ameaçam os Direitos da Família.
"Agora, os intelectuais citados no artigo, que se preocupam com o crescimento da bancada evangélica, têm razão de se preocuparem mesmo, pois a bancada evangélica permanece firme em defender a moral, a fé, a família e os valores de honestidade e integridade que estão desaparecendo no Brasil. Parece-me que o autor não leva em conta esses valores", finalizou.
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